Pit Bull: uma arma viva?

por rosalin - 19/08/2008
Pit Bull: uma arma viva?

Fátima e sua cadela Pit Bull, Bella

 

Pit Bull: uma arma viva?

 

A máxima do jornalismo diz que se um cão morde um homem não é noticia, mas se o homem morde o cão, aí sim, vira notícia. Em Belo Horizonte coincidiu destes dois acontecimentos se tornarem uma só notícia. No mês de agosto, na região do Barreiro, o tio da pequena Sofia de apenas 2 anos, mordeu a orelha de um cão da raça Pit bull que avançou na garota, na tentativa (bem sucedida) de cessar o ataque. Vários outros casos foram noticiados em 2007, inclusive a morte de um bebê de quatro meses em Ipatinga, trazendo novamente à pauta dos noticiários e para a sociedade em geral discussões sobre os ataques desses cães, confirmando que os cães têm atacado os homens e que isso nunca foi tão notícia como agora. Estes casos não são isolados e, na maioria das vezes, a culpa é do dono. Segundo a Dra. Júnia Cordeiro Menezes, especialista em cães e médica veterinária do Hospital Veterinário da UFMG (HV – UFMG), o erro não é do cão, e sim do dono “em todos os casos expostos na mídia de ataques de pit bull houve negligência do dono. Ou o cão não estava preso onde deveria ou não havia placa de advertência para identificar a existência de cães naquele local”, afirma. O decreto estadual que regulamenta a criação de pit bull, rottweiler e dobermann adota medidas bastante restritivas: os cães devem ser registrados, devem usar equipamento de contenção quando em vias públicas que impeçam ataques e mordidas, como a guia, a coleira, o enforcador e a focinheira; em casa devem ser mantidos em áreas delimitadas e seguras; uma placa de advertência informando a raça do animal deverá ser afixada no imóvel, além da proibição da ‘adoção, procriação e entrada de cães pit bull no Estado”. Quem descumprir a lei poderá ter o animal apreendido e sua liberação dependerá do pagamento de multa e despesas. Caso o animal não seja procurado no período de 15 dias poderá ser eliminado após parecer médico.

Júnia acredita que a legislação acerta na regulamentação dos animais, mas todos os cães agressivos e de grande porte deveriam ser identificados e registrados, além de obrigados a usar equipamentos de contenção, pois se encontrado na rua ou no caso de ataques, é a forma mais ágil de identificar quem é seu dono e puni-lo de acordo com a lei.

Em Belo Horizonte desde o dia 11 de setembro estão sendo implantados chips nos cães desta raça. O chip, que tem o tamanho aproximado de um grão de arroz, tem por objetivo armazenar informações essenciais, como idade do animal, controle de vacinas, além de identificar o proprietário em caso de ataques. Cerca de 1800 cães já estão cadastrados pela Prefeitura de Belo Horizonte para receber o chip. Estima - se que hoje existam cerca de 3000 pit bull na cidades. Depois da implantação do chip em cães da raça pit bull será a vez dos cães de grande porte também considerados violentos, como doberman e rottweiler.

 

Dócil sim, e por que não?

 

“Eu acho que eles têm que ser tratados iguais aos outros cachorros (...) quem faz o cachorro é o dono”, palavras de Fátima Soares, dona de Bella, uma pit bull de 1 ano e meio, em visita à cadela no Hospital Veterinário. Bella foi submetida a uma cirurgia para esterilização, através de programa da PBH, e teve uma hemorragia, sendo transferida para o HV – UFMG há algumas semanas. Fátima afirma que a cadela é dócil e nunca atacou ninguém. Na opinião da especialista Júnia, se adotadas as medidas estabelecidas pelo decreto estadual, necessárias para manter o animal em “área delimitada (...) guarnecida com cerca, muros ou grades” que impossibilitem a fuga do cão, além do uso dos equipamentos de contenção quando em local público, o cão não oferece riscos. Assim como uma arma guardada em local de fácil acesso oferece riscos ao dono e também a terceiros, o pit bull mantido em local impróprio e sob condições impróprias pode se tornar uma arma viva e instintiva.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, nos últimos seis meses o número de pit bulls capturados nas ruas de Belo Horizonte cresceu mais de 100% em relação ao mesmo período de 2006, demonstrando que, na tentativa de evitar problemas com ataques, os donos abandonam seus cães nas ruas da cidade. O número de ocorrências registradas também cresceu: dos 525 ataques caninos ocorridos no ano passado, 202 envolviam pit bull. Já em 2007, até o mês de agosto, dos 895 ataques registrados, 570 envolviam estes cães, uma mostra de que os ataques têm aumentado consideravelmente na capital mineira, justificando as restrições para criação de cães ferozes.

 

Para regulamentar e implantar o microchip em cães da raça pit bull, o proprietário deverá levar o cão ao Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte, popularmente conhecido como canil municipal, na rua Edna Quintel, 173, bairro São Bernando, portando carteira de identidade, CPF e cartão de vacina do animal.  Cães da raça doberman e rottweiler deverão ser encaminhados ao local somente para cadastro.   Em caso de cães que ofereçam riscos em via pública, o Corpo de Bombeiros deverá ser acionado através do telefone 193. Já no caso de agressão, além dos Bombeiros a pessoa deve acionar também a Policia Militar, para registro de ocorrência.

 

[BOX]

O Pit Bull, nome popular do American Pit Bull Terrier, surgiu do cruzamento do Bulldog inglês com o Terrier inglês, dotado da agressividade característica do pit bull. O cão tem como características muita força muscular, agilidade e resistência. É capaz de se deslocar também na vertical, escalando muros ou paredes. É muito determinado no cumprimento de suas tarefas, inteligente, dócil e fiel ao dono quando bem tratado. Por possuir características de atleta, ele necessita de exercício e treinamento para socializar, pois quando confinado em espaço pequeno tende à mudanças negativas em seu temperamento, tornando-se agressivo em tempo integral.